Quando abri a porta ele disse que ainda me amava, que na verdade por todo esse tempo nunca deixara de me amar. Eu não sabia de quem se tratava, era cedo e mal havia despachado o marido para o trabalho e os filhos para o colégio. Foram anos de tortura, ele disse, até tomar a decisão de me procurar, mesmo correndo o risco de não ser recebido. Sabia o mal que me havia feito, mas isso acontecia com os jovens, ainda que depois se arrependessem. Era uma manhã de dezembro que já começara quente e que prometia mais calor. Nesses dias a gente se sente exposto ainda que esteja em casa. E havia tudo para fazer, cama, comida, roupa suja, de maneira que não podia estar muito inclinada a espichar conversa. E também deixar entrar assim um estranho em casa não ficava bem, e estava de camisola e ainda não tinha escovado os dentes. Talvez me lembrasse daqueles olhos escuros, daqueles lábios rosados. Mas houve outros olhos, outros lábios e de manhã a gente não raciocina direito e a claridade da rua quase cegava. E então achei melhor fechar a porta. Encostei meu corpo nela, olhei demoradamente a casa na penumbra e fiquei fula da vida por terem vindo me lembrar da juventude àquela hora, daquele jeito.
Oi, gente! Gostaram do texto? Então, eu estou lendo um livro cheio deles, decidi colocar um só para compartilhar a minha leitura, são tantos bons que eu fiquei até em dúvida de qual colocar, vou colocar mais uma frase, no final, de algum, porque eu favoritei dois e seria muita coisa pra um só post e sei que dois posts só para compartilhar uma leitura ficaria chato. Ah, nem falei a leitura, não é? É uma seleção de crônicas de vários autores, chamada A Visita. Caso queira adquirir é só clicar aqui (Saraiva)!
Ao longo daqueles sete ou oito anos em que eles não se viam, ele sempre a sentia perto em algum lugar da mente. Sentindo-a perto, não sentia falta dela: ela estava ali, com ele.
-O rosto,
Alexandre Soares Silva.
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